quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O melhor mundo não é (nem nunca, nem sempre) o das crianças.


Olá a todas (os)

As pessoas têm por hábito dizer que o melhor dos mundos é o das crianças. Não tenho esta afirmação como sendo sempre verdadeira. Nem nos podemos socorrer deste pseudo argumento para fazermos com as crianças sintam que não devem reclamar ou questionar nada.
Eu contra mim falo. Já fui criança e nos momentos em que a memória me impele lá voltar, não vejo momentos suficientes que  possam apelidar a minha infância do melhor dos meus mundos . Tenho saudades de momentos, de muitos momentos, mas no todo não tive uma infância nem cor-de-rosa, nem tão pouco digna de ser chamada do melhor do meu mundo. Trabalhei muito e brinquei muito pouco. O afeto com contato de pele, beijos e abraços foi raro. Os mimos eram sempre direccionados para os mais novos, e eu, aos quatro anos já tinha dois irmãos mais novos. Lembro-me mais de ter atitudes de mãe, do que afetos como filha. Se por ter uma família numerosa e com escassez de recursos fez com que eu não tivesse a infância a que tinha direito, outras crianças, por esses ou outros motivos, também não a tiveram ou não têm. O fato de se ser criança não faz com que se tenha  direito a uma capa mágica invísivel, que cria imunidade às dificuldades, à incompreensão por parte dos adultos, ao medo, à carência de afetos, etc.
Não deixei, apesar de tudo, de compreender todas essas lacunas que me tornaram numa adolescente muito insegura e com muito baixa auto-estima.  Com o tempo, e a vida, também entendi que apesar da quase inexistência do afeto físico, havia um amor enorme, que raramente se demonstrava abertamente (só acontecia quando o medo de perda se apoderava dos adultos).  Depois de adulta e de ter saído de casa para morar longe deles, percebi o quanto é imenso o amor dos meus pais pelos filhos. Após nos verem criados e  bem "orientados" na vida, ficaram com uma disponibilidade maior para os beijos e abraços espontâneos.
Consegui, apesar de tudo, ultrapassar essas faltas que tive na minha meninice e tornar-me na pessoa que sou e gosto de ser. Na mãe que dá muitos abraços, muitos beijos, que brinca com as filhas, que as ouve, que conversa com elas e que por vezes chora por elas, pelos medos próprios das mães.
 A criança que eu era, habita dentro de mim e não me permite mais, ser aquilo que fui e não me fazia feliz. Talvez por isso eu ainda sinta nostalgia quando volto a esses tempos; talvez, inconscientemente, tente resgatar a criança que queria ter sido e não fui, que queria ter e que não tive.
O melhor mundo não é (nem sempre, nem nunca) o das crianças.

Este texto talvez pareça um pouco confuso, mas neste preciso momento, faz todo o sentido para mim.

imagem retirada da net
Beijos e abraços para todas (os)

8 comentários:

  1. Lassalete, gostei imenso do seu texto.
    Ainda bem que consegui ser quem é, e reage de forma bem diferente com as suas filhotas.
    Eu tive uma infancia muito feliz porque sou a mais nova de 4 irmãos e quando vim ao mundo já os meus 2 irmãos mais velhos trabalhavam. Fui sempre muito "mimada" quer pelos manos que adoro, quer pelos pais. O meu querido pai era muito ternurento com os filhos!
    Adoro passar por aqui pelo seu cantinho.
    Bjs
    Dulce

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  2. Agora que também somos mães podemos tentar preencher essas lacunas que nós fazem falta enquanto filhos. Já os nossos filhos sentirão outras diferentes e que tentarão preencher com os deles. A vida e assim.. Bjinho

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  3. É verdade! O ser humano tem a particularidade de ser todo diferente e imperfeito. O contexto onde estamos inseridos também faz toda diferença na nossa forma de ser e estar. Por isso mesmo não "crucifico" os meus pais. Penso que foram o melhor que conseguiram (e puderam ser).
    Beijinhos

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  4. Olá amiga. Acho que o melhor mundo é o momento presente, se o fizermos de forma feliz. Beijos.

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  5. Tem toda a razão Maria José. Hoje dou bem conta disso!

    Beijinhos para si

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  6. Olá,

    Gostei da sua forma de se expressar. Faz muito bem em não crucificar os seus pais, pois se e como diz, a preocupação deles nesse tempo era o de por pão na mesa aos filhos. Os tempos eram outros, o dinheiro era ainda mais escasso do que hoje em dia e não havia as ajudas sociais que existem hoje. Isso e que era a crise. Mas, tudo se criava e as pessoas enfrentavam tudo para ter de comer em casa, que ao final de contas era o mais importante .
    Um bom fim de semana.
    Lucy

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  7. Foi mesmo isso Lucy. Daí que eles quando nos começaram a ver independentes, ficaram sem tantas preocupações e mais " disponíveis "para nos mimarem. Eu amo muito os meus pais e tenho consciência que para eles a vida também foi muito dura
    por isso sinto muita necessidade de também eu os mimar.

    Bom fim-de-semana

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